Uma batalha entre a covardia e a consciência.



Era um mundo justamente cruel ao seu olhar tenro, porém ofuscado pelo brilho ilusório  de tantas aventuras e pela busca infindável pelo novo que havia há tempos, envelhecido.
Partira da realidade vivida todas as ilusões de um mundo melhor. Nada parecia mais atraente do que encarar a realidade. Já sem ilusões, jogou-se nas estradas da vida, crendo que jamais tropeçaria em arrependimentos ou supostas consciências. Se a vida se apresentava suja, julgava ser possível banhar-se na lama.
Pra sua surpresa, a vida é quem nos leva, não o oposto. Algo de puro esbarrou em seu caminho. Não houve tropeços, apenas um encontro. O suficiente para fazê-lo repensar. Havia uma luz no fim do túnel, mas insistia em olhar pra trás. A escuridão de seus devaneios entorpecidos lhe causava ainda a curiosidade em descobrir ou reencontrar o que se escondia nos recantos de suas pegadas ainda acessas naquele beco escuro. E ele voltou... Retrocedeu... Encarou toda a sujeira com sorriso nos lábios. Julgava conhecer todos os recantos podres, e cujos mesmos, não teriam, supostamente, o poder de surpreendê-lo. Havia certo sabor em repetir alguns erros prazerosos e sem culpa. Mas algo surgiu com uma luz diferente. Havia uma emoção que o incomodava dessa vez. Era um sorriso inocente, que invade a alma da gente, e que faz qualquer ser de consciência parar pra pensar. Ele foi recrutado para a mais cruel, suja e injusta das batalhas. Foi como um exército inteiro ser convocado para a derrota de um único soldado desarmado. De alguma forma, aquela lama, aquele beco, tornou-se mais escuro que nunca, mais fétido do que jamais conseguiu sentir. Sua mente dividiu-se entre poder e dever. Sentir e fazer. Olhar, e perceber. Sentia-se enojado diante de uma batalha tão sem razão, as custas da inocência que ele mesmo parecia haver esquecido que ainda existia por aí. E mais!! Ele esbarrou na força da própria consciência que julgava  perdida pelos erros da vida. Uma palavra mostrou seu poder. Ele que sempre disse sim pra vida, descobriu a força e o poder do NÃO. Atirou a esmo, sem alvo fixo, sem qualquer direção, na tentativa desesperada de não ferir a inocência. Encarou outra guerra, feriu outro soldado... Esse, porém, de um exército inimigo, cujo sua perda não empobreceria tanto sua alma angustiada... Feriu a si mesmo, buscando a dor de qualquer outra escolha a se sentir capaz de destruir a esperança de um futuro melhor para quem ainda o tinha.
Porém, todas as armas ao chão, final de batalha, lhe trouxeram a certeza da derrota... Ainda que tenha salvo a esperança, sentiu que havia de certa forma, perdido. A dor em sua alma denunciou uma realidade castigante. Mas certezas destruídas sobraram ruínas de bom senso. Um pedaço de sua mente que foi construído com base sólida lhe causou a sensação que ele não havia, de todo, se corrompido no caminho. E isso, trouxe a tona uma afirmação já esquecida, ou ao menos, não tão cobrada. A  de que nem tudo vale a pena. Especialmente, se a alma não é mesmo tão pequena. 


Gil Façanha

Comentários

Mirian Marclay disse…
Gil dentre as maravilhas que vc escreve, este conto me emociona mesmo. E vou te lendo aos poucos amiga, para não esgotar o que ler de ti, pois assim sei que minha alma está, ao menos um pouquinho ai...

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