No presente o passado
PRAÇA AUGUSTO SEVERO – NATAL - RN
Politeama, primeiro cinema de Natal (1912)
Fonte: http://blogdoborjao.blogspot.com
Texto inspirado nas histórias e imagens enviadas por um grande amigo.
Que bela época foi aquela, onde minha alegria
atravessava os antigos portais que viraram história. Românticos incuráveis,
fervorosos seresteiros apaixonados, embriagados pela brisa gélida que lhes
trazia a necessidade do tocar a mão da amada, e esse toque singelo era capaz de
aquecer o corpo inteiro.
Ah, saudoso tempo onde os prazeres eram simples,
onde a conquista do boêmio era mais bela que o sucesso enfim. Os corações
enamorados desabrochavam com a primavera, e as flores era o símbolo dos
apaixonados.
Ruas de tijolos brancos, bondes, novos grandes
casarões pomposos que exibiam a riqueza de poucos... Hoje, tantos se
tornaram lembranças esquecidas de um tempo que a idade não leva de mim, e
nem as possíveis limitações do corpo e da saúde teriam minha permissão
consciente de roubar-me os melhores momentos em que fui tão feliz.
A nostalgia me açoita... Mas, em contrapartida, me
devolve o sorriso antigo, aquele mesmo sorriso que hoje só existe em minhas
memórias. Mergulho nas presentes letras, rabiscando em um pedaço de papel
traços de recordações que me são tão presentes, tanto, que fazem de mim um
reflexo vivo de um tempo que algum dia, será comentado apenas através das
suposições de quem nunca esteve lá.
Por hora, ressurjo do passado como quem busca ar
após um mergulho profundo naquilo que um dia foi. Respiro fundo, olho a minha
volta, e as belezas de hoje não abrandam minha saudade que me alimenta. Essas
lembranças fazem de mim um ser solitário, mas, dentro daquilo em que a vida me
transformou, sou feliz por ter tido a alegria plena de viver em um tempo onde o
amor era puro, simples, e onde sonhávamos com a possibilidade do eterno. Aqueles
antigos bancos de praça foram testemunhas de tantos sonhos meus. E agora,
diante desse céu que amanhece, vou anoitecendo meus desejos inúteis,
resguardando meus anseios já tão secretos, e sigo as horas, sem outra opção de
ser.
Esta noite tive a certeza de que aquela época que se foi não voltará a
cruzar meu caminho. Os boêmios e as serestas envelheceram comigo, e há muito, a
beleza da simplicidade se extinguiu. Agora lembro bem porque deixei de
ser um notívago. Minhas constatações me arrancaram do mundo atual. Sinto como
se não pertencesse a ele. Vou para casa... Preciso dormir. O que buscava não
existe mais, já se perdeu. E introspectivo caminho sem poder vislumbrar uma
possibilidade que seja de voltar a ser eu.
Gil Façanha
Comentários
Parabéns,Gil.