Qual o teu preço?
Ela tinha aquela certeza dos inocentes, levantava a bandeira dos que tinham caráter irrevogável e socialmente analisável e respeitável. Todas as regras cumpridas, nunca andou fora do caminho, pois não havia atrativos a beira da estrada. Todas as paisagens vistas por sua janela estavam exatamente onde deveriam estar. Havia a consciência de que tudo ficaria onde sempre esteve e que tamanha beleza a manteria eternamente por lá.
Idas e vindas, e as paisagens continuavam no mesmo lugar. Até que de tão acessível, tão comum, tão ao alcance, perdeu o encanto. Ela já não via a mesma maravilha pela janela de sua existência, e diante disso, ousou abrir a porta e andar a beira do caminho, na busca, talvez, por achar o que foi perdido, de entender o porquê que da sua janela já não se via mais o mesmo brilho do pôr do sol, e aquela brisa de mar que outrora deslizava em meio a seus cabelos e que agora virara apenas o sopro de um vento frio de inverno, ou de um verão sem calor.
A princípio era tudo inaceitável! Ela recusara tais mudanças. Afinal, havia levado anos preparando aquele horizonte que lhe parecia eterno na moldura das suas emoções. Embora não pudesse entender a razão, no amanhecer, já não mais a encantava o canto dos pássaros. Aliás, muitos já haviam voado rumo ao sul, prevendo o frio ameaçador a alcançar seus ninhos. Os poucos que ficaram pareciam tão enfraquecidos que não se podia mais ouvir o seu canto, deixando-a saudosa daquela melodia de paz.
Havia a ilusão de o eterno ser possível, do perfeito ser palpável e, portanto sujeito a moldes inventados. Aquela luta interna que por tanto tempo deixou o campo de batalha com a aparência que qualquer guerra deixaria, já não encontrava forças para ainda o ser. Entregue, desfalecida e vazia de esperança, chegou à conclusão de que para fugir ás regras, só precisa que se chegue ao preço que cada um possui. E a ela, tudo já estava custando alto demais. Preço alcançado... Regras quebradas... Partiu em busca de outras paisagens, outras estações que lhe mostrassem diferentes belezas. Agora já não julgava mais a ninguém a sua volta e todo aquele discurso pronto, que se encontra nas bocas dos politicamente corretos, tornou-se hipócrita, inaceitável diante da realidade de que o que todos precisam para sucumbir diante de seus textos prontos, ou levar ao chão as paredes de suas fortalezas inabaláveis do bom senso... É apenas a razão... O preço que todo mundo possui.
Gil Façanha
Comentários
adorei o texto embora eu ache que nem todos têm um preço...quero dizer,talvez até tenham um preço porém não podem ser comprados com dinheiro.E sim com coisas que os convenham...aliás,todos estamos sujeitos a mudar de opinião,mudar de causa,mudar sua luta...Mudar.
Mas enfim,parabéns pela opinião exposta,adorei.
Beijos
Belo texto, é uma forma de evidenciar o egoísmo preso em nós.
Tanto na parte em que somos vendedores de nossa própria alma para alcançar nossos objetivos, quanto na parte em que nos tornamos hipócritas por pregar valores morais e sociais aos quais muitas vezes estão extintos dentro de nós.
E digo ''nós'', como uma forma de tratar uma massa social que prega o consumismo, e faz dos sentimentos como dignidade, justiça e fidelidade, parecerem objetos ultrapassados e inúteis.
Um abraço!
Espero que goste.
Abraço
Bjs.
Desculpe pela demora para responder.
E claro que fico grato por pedir-me o link do vídeo e por publicá-lo. É sempre um belo incentivo.
Então, segue o link:
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Um abraço!
Espero que goste,beijos e uma excelente semana.